No início foi um baque. Imagine você receber um diagnóstico de uma doença sem cura, neurodegenerativa. Pois bem, o resultado é que o seu chão se abre. Realmente, eu só conseguia me imaginar numa cadeira de rodas. No começo, eu assumo que fiquei depressiva, com vergonha de contar para as pessoas sobre minha condição, mas, depois de um tempo, eu amadureci e tive ideia de criar meu Instagram e publicar a minha rotina como paciente e, também, a maneira como me reinvento todos os dias.
Essa foi a solução que eu encontrei para me ajudar e apoiar outras pessoas na mesma condição. Eu seria um testemunho que, mesmo com uma doença, eu poderia ser feliz e viveria uma vida com qualidade. Eu, mesmo com toda dificuldade, burocracia no tratamento, o meu diagnóstico não é uma sentença de morte – eu decidi lutar por mim!
Eu fui além, retornei para a dança, que sempre foi um hobby. E me motivei para algo que eu sempre quis fazer, por exemplo, o pole dance e, claramente, eu decidi me arriscar. A pratica dessa modalidade esportiva, tão desafiadora, me tornou viva. Além de me incentivar na superação, eu estou me exercitando, o que é primordial pra quem tem esclerose múltipla.
O pole dance ou, também, o já conhecido pole esporte, me mantém ativa. Fazer minhas atividades físicas, viajar, trabalhar, participar de ações comunitárias e, também, seguir o tratamento – tudo isso me faz sentir radiante. Eu digo que, hoje, tenho sede de vida.
Nesses três anos de diagnóstico, eu conheci muita gente com a mesma condição, fiz amigos, digo que são meus “irmãos de diagnóstico”. Hoje, eu entendo que tudo tem um propósito, e sou muito melhor. Eu tenho esclerose múltipla, mas ela não me tem!
A esclerose múltipla me trouxe mais coisas do que tirou. Mas, eu não posso romantizar a doença, tem muita gente que não tem acesso nem à medicação, acumulam sequelas dos surtos e eu sou um caso à parte. Mesmo assim, não sei até quando. Eu digo isso, porque a doença pode ser muito cruel, porém, eu luto todos os dias contra meu psicológico, pra não desanimar, porque o medo é constante.
Mas uma coisa eu tenho certeza: eu vou morrer com a esclerose múltipla, não de esclerose múltipla, então, bora viver. A única certeza é a morte, de qualquer um, independente do diagnóstico. Ninguém carrega cruz maior que não consiga suportar. É meu carma e, hoje, eu sei que meu propósito é ajudar as pessoas por meio da minha experiência com a doença, por isso a importância deste dia 30 de maio em conscientizar as pessoas sobre essa doença que pouco é falada.
Deborah Favero é mãe, nutricionista, diagnosticada com esclerose múltipla e praticante de pole dance em São Bernardo.
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