O interior paulista vive uma transformação significativa. A tradicional imagem do campo está sendo substituída por um cenário onde sensores, inteligência artificial, aplicativos e dados em nuvem desempenham papéis centrais. No epicentro dessa mudança estão as agrotechs – startups focadas em inovação no setor agropecuário – e uma rede de cidades que apostam na integração entre tecnologia e tradição agrícola.

Cidades como Botucatu Piracicaba e São Carlos se destacam como polos tecnológicos voltados à agricultura. Investimentos em pesquisa, conectividade e startups moldam um novo ecossistema de desenvolvimento sustentável. A revolução da agricultura de precisão coloca o interior paulista no centro de uma nova economia verde e digital. A juventude rural retoma protagonismo com tecnologia e inovação.

Piracicaba, por exemplo, consolidou-se como referência nacional com o AgTech Garage, que integra mais de 40 startups do agronegócio e atua em parceria com grandes empresas e instituições como a Esalq/USP. Conhecida como “AgTech Valley”, a cidade promove eventos, hackathons e programas de aceleração voltados à agricultura digital.

Em São Carlos, o ecossistema de inovação impulsiona soluções sofisticadas para o campo. O Parque Tecnológico da cidade, em conjunto com a UFSCar e a USP, abriga empresas especializadas em robótica, sensores e automação agrícola. A cidade ganhou o apelido de “Sanca Hub” pela densidade de talentos voltados à ciência aplicada.

Ribeirão Preto, com histórico agroindustrial consolidado, reforça seu protagonismo com eventos como o Congresso Brasileiro de Agricultura de Precisão. No SUPERA Parque, startups desenvolvem ferramentas de georreferenciamento e modelos preditivos de safra. A força do setor sucroalcooleiro e o envolvimento de instituições como a UNAERP sustentam esse avanço.

Em Botucatu, a Unesp estimula pesquisas voltadas à biotecnologia e ao manejo sustentável. O foco está em soluções aplicadas para pequenos e médios produtores, com destaque para o controle biológico de pragas e técnicas de conservação do solo. A cidade também abriga empresas especializadas em consultoria técnica para produção inteligente.

Campinas se destaca pelo protagonismo em biotecnologia agrícola. A presença da Embrapa, do CNPEM e da Unicamp garante um tripé robusto para pesquisa em genética vegetal, bioinsumos e resistência a doenças. Diversas agrotechs atuam no desenvolvimento de produtos baseados em dados genômicos e edição de genes, gerando soluções altamente especializadas.

Até municípios menores, como Tupã, têm avançado. Considerada capital nacional do amendoim, a cidade investe em rastreabilidade digital e tecnologias para industrialização. Com mais de 20 mil hectares cultivados, a produção local é abastecida por soluções criadas por startups da própria região.

Não apenas a produção, mas também a formação de talentos tem sido prioridade. Iniciativas como o Jovem Agricultor do Futuro, promovido por cooperativas em parceria com prefeituras, treinam adolescentes em tecnologias aplicadas ao campo. A presença de escolas técnicas e institutos federais é outro motor dessa virada.

Esse movimento também devolve à juventude rural um novo papel: não mais o de migrar para centros urbanos, mas de empreender com base em conhecimento e inovação. Com isso, o campo se torna espaço de oportunidade para quem alia raízes e visão de futuro.

A tendência também é impulsionada por demandas globais. O consumidor exige rastreabilidade, menor uso de agrotóxicos e mais sustentabilidade. Atentas a isso, as agrotechs paulistas têm se destacado em áreas como agricultura regenerativa, sensores climáticos e previsões de safra baseadas em aprendizado de máquina.

A revolução digital no campo não é apenas tecnológica – é também social e econômica. Ela redesenha o perfil das cidades do interior, que passam a oferecer não só produção, mas também inovação, empregos qualificados e protagonismo ambiental.

Esta coluna é publicada pela Associação Paulista de Portais e Jornais e pode ser lida também no site www.apj.inf.br. Publicação simultânea nos jornais da Rede Paulista de Jornais, formada por este jornal e outros 15 líderes de circulação no Estado de São Paulo.