A entrevista concedida por Jorge Luís Saab Carrer, diretor da Volkswagen Ônibus e Caminhões, ao Diário oferece um panorama que deve ser considerado com atenção pelos gestores públicos do Grande ABC. A retomada do setor, impulsionada pela valorização da mobilidade como serviço essencial, reforça o papel do transporte coletivo na organização das cidades. Com propriedade, o executivo destaca que a reestruturação do portfólio das montadoras, a ampliação de subsídios e novos modelos de financiamento pode inspirar soluções locais, sobretudo em um momento em que os municípios da região enfrentam desafios com congestionamentos e deslocamentos ineficientes.

A mobilidade baseada em veículos de uso individual tem contribuído para a sobrecarga viária. Ao invés de priorizar investimentos em infraestrutura voltada a automóveis, os municípios poderiam acelerar a modernização e expansão de suas redes de transporte por ônibus. O modelo defendido por Carrer – focado em veículos mais econômicos, menos poluentes e integrados a sistemas eficientes – permite ganhos imediatos de escala, redução de emissão de poluentes e melhorias no tempo de deslocamento. Iniciativas como corredores exclusivos, integração tarifária e renovação de frota com veículos Euro 6 ou elétricos podem transformar o coletivos em alternativa real ao automóvel.

Quando afirma que “talvez o ônibus seja o futuro”, Carrer sugere uma mudança de mentalidade sobre a mobilidade urbana. No Grande ABC, onde as cidades são próximas e interligadas, o transporte coletivo pode se tornar eixo articulador de desenvolvimento regional. Para isso, é necessário pensar além do veículo: infraestrutura, políticas de incentivo ao uso coletivo e planejamento integrado entre os municípios devem caminhar juntos. O entrevistado deixa claro que há tecnologia e conhecimento disponíveis, mas cabe aos gestores dar direção e ritmo a essa transformação. O transporte público de qualidade não pode mais ser entendido como alternativa – deve ser tratado como a prioridade.