Billings Titulo ABASTECIMENTO DA REGIÃO
Despejo de esgoto contamina e encarece águas da represa

Os efluentes vêm tanto das águas do Rio Pinheiros, com a transposição, quanto das ocupações irregulares

Tatiane Pamboukian
27/03/2025 | 00:10
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Celso Luiz/DGABC


O despejo de esgoto não tratado tem poluído ao longo do anos a Represa Billings, dificultando e encarecendo o tratamento das águas que abastecem a população. Os efluentes vêm tanto das águas do Rio Pinheiros, com a transposição, quanto das ocupações irregulares.

A professora e pesquisadora da UFABC (Universidade Federal do Grande ABC), Roseli Frederigi Benassi, explica a origem dessa contaminação das águas, que pode causar doenças e atinge toda biota aquática, incluindo peixes. “A Billings é compartimentalizada e recebe efluentes sem tratamento de esgoto, e quando tem o tratamento ele não é no nível terciário, que trata a remoção de nitrogênio e fósforo. Hoje ela está com processo de eutrofização avançado (poluição por excesso de nutrientes), pois tem pontos da represa com altas concentrações de nitrogênio e fósforo, levando à proliferação de microalgas e cianobactérias, que forma aquela nata verde no reservatório.”

Roseli diz que a presença desses microrganismos nos reservatórios dificulta e onera o tratamento da água. “Elas liberam toxinas que podem causar problemas tanto para a biota do ecossistema quanto para a saúde humana. Há relatos dessas toxinas causarem problemas hepatotóxicos, neurotóxicos, entre outros”, afirma. 

Pesquisadores de universidades, entre elas a UFABC e USCS (Universidade Municipal de São Caetano), apontaram em nota técnica, divulgada há cerca de um ano, a partir de conclusões de suas pesquisas, que até a área das cabeceiras, que drenam águas diretamente das nascentes e que deveriam ter uma melhor qualidade da água, apresenta níveis médios de concentração de nitrogênio e carbono.

O nível de poluição das águas varia espacial e temporalmente. “Quando chove muito, há uma maior transposição das águas e esse esgoto é lançado dentro do reservatório. Então quando chove muito piora a qualidade da água”, explica Roseli Benassi.

A professora destaca que é necessário haver tratamento de 100% do esgoto, sobretudo os clandestinos, vindos da área de entorno, das ocupações irregulares, que geralmente possuem esgoto doméstico, sem tratamento. “Os governantes precisam olhar para esse manancial com mais cuidado e carinho”, ressalta.

INVESTIMENTOS 

A Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) informou ao Diário que, como parte das obras de melhoria no abastecimento do Grande ABC, instalou, neste mês de março novos filtros e flotadores na ETA (Estação de Tratamento de Água) Rio Grande, localizada no bairro Montanhão, em São Bernardo do Campo, onde as águas são tratadas. Com isso, a capacidade de tratamento aumentará em 400 litros por segundo, passando de 5.000 para 5.400 litros por segundo, volume equivalente ao consumo médio de aproximadamente 85 mil pessoas.

A empresa disse ainda que investirá mais de R$ 60 bilhões em obras para conectar ao sistema de esgoto aproximadamente dois milhões de imóveis no trecho do Alto Tietê, que vai de Salesópolis até o encontro com o Rio Pinheiros.

Projetos de São Bernardo tentam reverter impactos ambientais 

São Bernardo, cidade por onde passa boa parte da represa, vem desenvolvendo uma série de ações voltadas à preservação socioambiental e à revitalização da Represa Billings. Entre os projetos em andamento destaca-se o Projeto de Urbanização Integrada do Alvarenguinha, que contempla obras de saneamento, drenagem, canalização de córregos, implantação de hortas comunitárias, plantio de árvores e outras iniciativas sustentáveis, que irão beneficiar mais de cinco mil moradores da região.

Além disso, a Prefeitura mantém outros projetos estruturantes, como no Jardim Serro Azul, PAC Mananciais, Pós-Balsa e medidas vinculadas ao Prosabs (Programa de Recuperação e Ordenamento Sócio Ambiental de Bairros de São Bernardo), que impactam positivamente toda a área da Billings ao longo da Estrada dos Alvarengas.

O projeto do Alvarenguinha se destaca por estar em estágio mais avançado, representando um avanço significativo e um exemplo de recuperação ambiental. Já o Prosabs prevê a requalificação completa de áreas vulneráveis da cidade, incluindo regiões como Grande Alvarenga e Riacho Grande. Entre as melhorias estão obras de micro e macrodrenagem, arborização, eficiência energética e recuperação de áreas degradadas.

Como parte das comemorações de 100 anos da Billings, a Prefeitura de São Bernardo irá, ainda, assinar carta-intenção pela preservação da Billings. O documento, elaborado pelo Consórcio Intermunicipal do Grande ABC em prol da sustentabilidade e segurança hídrica, estabelece diretrizes para a conservação e recuperação ambiental da represa, saneamento, controle de poluição, educação ambiental, além de incentivo ao ecoturismo.




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